Que nada fique igual no itinerário quaresmal
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Eis-nos chegados, uma vez mais, ao tempo santo da Quaresma. Eis-nos chegados, uma vez mais, a este tempo de graça e de luz, a este tempo totalmente centrado em Jesus.
Eis-nos chegados, uma vez mais, a este tempo de conversão, que há-de começar bem dentro do nosso coração.
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Não é para que tudo fique igual que estamos a percorrer o itinerário quaresmal.
É para que tudo possa ser diferente que o apelo à mudança se torna mais insistente.
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Jesus é o novo Moisés, aquele que vai guiar o povo para a verdadeira libertação, não já pelas águas do Mar Vermelho, mas pelas águas do Baptismo.
E Ele é o definitivo profeta, que nos encaminha para a Verdade e para a Vida (cf. Jo 14, 6).
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Desta acção libertadora de Jesus irá nascer um novo homem e um novo povo.
É com este homem e com este povo que, em Jesus, Deus vai fazer uma nova Aliança.
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Não estamos sós. Estamos sempre «apoiados na força de Deus» (1Tim 1, 8). É Ele que nos salva. É Ele que nos chama a sermos santos (cf. 1Tim 1, 9): não por aquilo que nós possamos fazer, mas unicamente por Sua graça (cf. 1Tim 1, 9).
Esta graça é-nos dada pelo Filho de Deus, por Jesus Cristo. Foi Ele que, na Sua morte, destruiu a morte. Foi Ele que, na Sua morte, fez brilhar a vida (cf. 1 Tim 1, 10).
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O paradoxo nunca nos deixa: nem como pessoas nem como discípulos de Cristo. É preciso dar a vida para ganhar a vida. É preciso morrer para ressuscitar.
Será que estamos dispostos a deixar-nos desassossegar por Deus?
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Abraão é o primeiro grande modelo bíblico de quem se deixa desassossegar por Deus. É de Deus a voz que o manda deixar a sua terra e a sua família (cf. Gén 12, 1).
Nem sequer lhe é dito para onde ir: «Parte para o país que Eu te indicar» (Gén 12, 1). O que vale é a garantia de Deus. A única segurança é a Palavra de Deus.
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O nosso problema é que nos falta a ousadia de deixar antes de partir. Às vezes, até nos dispomos a partir, mas levando tudo o que é nosso.
Esquecemos que Deus começa por pedir a Abraão que «deixe».
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Com Abraão, que cada um de nós diga: «Aqui estou» (Gén 22, 1).
Que cada um de nós esteja acolhedor quando Deus nos visita. Que cada um de nós esteja atento quando Deus nos fala.
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Deus oferece-nos o melhor que tem: o Seu próprio Filho.
Se Deus dá o melhor por nós, como é que nós não havemos de dar o melhor a Deus?